Sim, acordei alheia à mim mesma.
Acordei e esqueci o que tinha para fazer
Esqueci qual dia era o da semana
E ao me olhar no espelho
Admirei a beleza que eu via
Como quem admira a um retrato
E não a seu reflexo.
Acordei alheia aos que eu via
Não os reconhecia
Não reconhecia à mim mesma.
Olhei na prateleira do quarto os meus livros
E me perguntei:
Será que eu li?
Não soube responder
Pois, acordei alheia ao meu passado
Alheia aos meus gostos.
Tentei lembrar do seu rosto
E me situar
Mas, por um segundo esqueci o seu nome
E tive a sensação de estar alheia até às batidas do meu coração
Alheia a qualquer pulsação ou sinal de vida que viesse de mim.
Aquela lista de prioridades no mural
Parecia não fazer sentido algum
Como definir a atividade mais importante da semana?
O mais importante era me encontrar
Precisava perder aquela sensação de estar alheia
Que não tinha gosto algum.
…
Não tinha meu cheiro
Não tinha meus sapatos jogados pelos cantos.
Tudo estava em seu lugar
Eu é que não estava em lugar nenhum.
Por isso foi tão difícil me encontrar
O dia passou
E eu alheia à tudo que fazia
Seguindo apenas aquela lista
A lista dos compromissos aos quais eu me sentia descompromissada.
A noite chegou
O sono me acalmou
E acordei lembrando de mim.
Será que sonhei?
Isto eu não sei.
…
Para que eu não me perca
Para que eu não acorde alheia
Para que eu esteja presente.
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